terça-feira, 31 de março de 2020

História do Dia: Pauzinhos de marfim




Na China antiga, um jovem príncipe resolveu mandar fazer, de um pedaço de marfim muito valioso, um par de pauzinhos. Quando isto chegou ao conhecimento do rei seu pai, que era um homem muito sensato, este foi ter com ele e explicou-lhe:
— Não deves fazer isso, porque esse luxuoso par de pauzinhos pode levar-te à perdição!
O jovem príncipe ficou confuso. Não sabia se o pai falava a sério ou se estava a brincar. Mas o pai continuou:
— Quando tiveres os teus paus de marfim, verás que não ligam com a loiça de barro que usamos à mesa. Vais precisar de copos e tigelas de jade. Ora, as tigelas de jade e os paus de marfim não admitem iguarias grosseiras. Precisarás de cauda de elefante e fígado de leopardo. E quem tiver comido cauda de elefante e fígado de leopardo não vai contentar-se com vestes de cânhamo e uma casa simples e austera.
Irás precisar de fatos de seda e palácios sumptuosos. Ora, para teres tudo isto, vais arruinar as finanças do reino e os teus desejos nunca terão fim. Depressa cairás numa vida de luxo e de despesas sem limite. A desgraça irá atingir os nossos camponeses, e o reino afundar-se-á na ruína e desolação… Porque os teus paus de marfim fazem lembrar a estreita fissura no muro de uma fortaleza, que acaba por destruir toda a construção. 
O jovem príncipe esqueceu o seu capricho e mais tarde veio a ser um monarca reputado pela sua grande sensatez.
 Conto do filósofo chinês Han Fei,
oito séculos antes da nossa era.

segunda-feira, 30 de março de 2020

Reflexão do Dia: A Primavera está a chegar...



É verdade que há medo. É verdade que há isolamento. É verdade que há açambarcamento. É verdade que há doença. É verdade que há mesmo morte.
Mas há quem diga que, em Wuhan, depois de tantos anos de ruído, é possível, de novo, ouvir os pássaros.
Há quem diga que, após algumas semanas de silêncio, o céu já não está tão poluído e voltou a ser azul e nítido.
Há quem diga que, nas ruas de Assis, as pessoas cantam umas para as outras através das praças desertas e mantêm as janelas abertas, para que os que estão sozinhos possam ouvir sons de vida em família.
Há quem diga que um hotel do oeste da Irlanda está a confecionar e entregar refeição gratuitas às pessoas que não podem sair de casa.
Hoje mesmo, uma jovem minha conhecida está a distribuir panfletos com o seu número de telefone pela vizinhança, para que os idosos possam ter com quem falar.
Hoje mesmo, igrejas, sinagogas, mesquitas e templos preparam-se para acolher os sem-abrigo, os doentes e os exaustos.
Um pouco por todo o mundo, as pessoas estão a parar e a refletir.
Um pouco por todo o mundo, as pessoas estão a ver os vizinhos de forma diferente.
Um pouco por todo o mundo, as pessoas estão a acordar para uma nova realidade.
Para o facto de sermos todos tão relevantes.
Para o facto de termos todos tão pouco controlo.
Para aquilo que realmente importa.
Para o Amor.
E, por isso, rezamos e lembramos que, apesar de haver medo, não tem de haver ódio.
Que, apesar de haver isolamento, não tem de haver solidão.
Que, apesar de haver açambarcamento, não tem de haver mesquinhez.
Que, apesar de haver doença, não tem de haver almas doentes.
Que, apesar de haver morte, o amor pode sempre renascer.
Acordemos para as escolhas que fazemos em relação à vida que levamos hoje.
Ouçamos, por detrás dos ruídos incessantes do nosso pânico, o canto dos pássaros.
O céu está a clarear, a primavera está a chegar, e o Amor continua a abraçar-nos a todos.
Abramos as janelas da nossa alma e, mesmo que não possamos tocar-nos, cantemos uns para os outros.

sábado, 28 de março de 2020

História do dia: Obrigada por não me empurrares




As minhas pernas andavam para a frente e para trás. Embora estivesse a usar toda a força que tinha para que o meu baloiço chegasse ao céu, estava muito longe de o conseguir.
— Mãe, podes empurrar-me outra vez?
— Não, filha. Eu sei que consegues chegar mais alto. Concentra-te e continua a usar as tuas pernas.
Olhei em volta e vi todas as outras mães e pais do parque a empurrar os filhos, sob o calor escaldante de junho. Perguntei-me por que razão a minha mãe não fazia o mesmo. Não que lho fosse perguntar. Temia bem aquele olhar que os pais lançam aos filhos, quando acham que a sua autoridade está a ser questionada.
— Está bem — resmunguei.
Embora eu não acreditasse na força das minhas pernas, a minha mãe parecia ter muita confiança nelas. Coloquei as mãos em volta das correntes de metal, pus-me em posição, balancei para trás e lá continuei.
— Continua a balançar as pernas, filha! Tu consegues! — encorajou-me ela.
Parecia querer o meu sucesso mais do que eu mesma. Como não queria desapontá-‑la, lá me esforcei. Acabei por chegar tão perto do céu que os meus pés já tocavam as nuvens. Sorri abertamente ao ver que tinha conseguido o impossível. Tinha conseguido voar.
Saltei do baloiço e enterrei os pés na areia quente.
— Viste o que eu fiz, mãe? Viste?
— Claro que vi. Estive sempre a olhar para ti.
Naquela altura, não compreendia por que motivo a minha mãe queria que eu fizesse tudo sozinha. Se eu não conseguia balançar mais alto, porque não me empurrava ela?
Ao longo dos anos, a minha mãe deu-me o maior presente que um pai ou mãe podem dar aos filhos: um amor exigente, liberdade e independência. Ensinou-me a enfrentar os desafios sozinha. Preparou-me para o meu futuro. E mostrou sempre muita empatia e amor por mim, ao mesmo que tempo que fazia de minha professora e melhor amiga, e ainda de pai e de mãe.
De cada vez que ouvia as palavras “Não consigo”, sorria, porque sabia que eu conseguia. Se ela tivesse empurrado o meu baloiço, eu nunca teria saltado dele sentindo-‑me tão maravilhosamente capaz.
Christy Barge

quinta-feira, 26 de março de 2020

História do Dia: Uma questão de lápis




O telefone tocou. Era a minha irmã a dizer:
— Pensei que gostarias de saber que voltei a contar a tua história dos lápis.
A minha irmã é diretora da biblioteca audiovisual de uma escola básica. De vez em quando, conta aos alunos que visitam a biblioteca um episódio que se passou comigo em criança.
Há cerca de 40 anos, estava eu sentada na minha sala de aula quando alguém, através do altifalante da sala, me chamou ao gabinete do diretor. O gabinete do DIRETOR! Enquanto me dirigia para lá, a minha curta vida de seis anos desenrolou-se qual filme diante dos meus olhos. O que teria eu feito?
Era uma criança tímida e evitava dar nas vistas. Não gostava nada que reparassem em mim ou que me destacassem do grupo. Para mim, ser chamada ao gabinete do diretor era o meu pior pesadelo tornado realidade. Quando lá cheguei, a secretária dele disse:
— Diane, o diretor ainda não pode receber-te. Senta-te uns minutos, por favor.
Sentei-me num sofá de couro e afundei-me o mais que pude. Até rezei para que as almofadas me engolissem.
Pouco depois, o intercomunicador emitiu um ruído e a secretária sorriu:
— Podes entrar agora.
Empurrei a pesada porta de carvalho. A situação ainda era pior do que eu imaginava porque os meus pais estavam sentados diante da secretária do diretor. Só anos mais tarde é que soube porque tinham sido chamados.
O meu pai dirigiu-se a mim com uma resma de desenhos meus.
— Por que razão usas apenas lápis preto para desenhar? — perguntou.
Fiquei sem palavras e encolhi os ombros.
— Mostra-me a tua secretária — pediu o meu pai.
Regressámos à sala de aula. Como era intervalo, todos os meus colegas estavam no recreio. Apontei, nervosa, para a minha secretária. O meu pai pegou na minha caixa de lápis e esvaziou o conteúdo na mão. Só lá havia um cotinho de lápis preto. Admirado, o meu pai perguntou:
— Onde está o resto dos teus lápis?
Expliquei-lhe que os tinha passado aos meus colegas. Emprestado, tal como os meus pais me haviam ensinado.
O meu pai suspirou de alívio:
— Emprestaste-os.
Assenti com a cabeça. Olhei para o meu pai e para o diretor. Ambos tinham a cara vermelha. O diretor murmurou qualquer coisa sobre eu ir para o recreio brincar. Acenei aos meus pais e lá fui. A minha mãe retribuiu o meu gesto, mas o meu pai estava demasiado concentrado a olhar para o diretor. Anos mais tarde soube que a vermelhidão do rosto do meu pai se devia à irritação  e que a vermelhidão do rosto do diretor se devia ao embaraço. Tendo visto os meus desenhos todos pintados a preto, o diretor assumira que eu tinha problemas emocionais graves. A minha escolha de cor dever-se-ia a uma “natureza sombria e deprimida.” Assim, chamara os meus pais para discutir o meu “problema” e sugerir-lhes que eu tivesse algum tipo de acompanhamento psicológico.
Eu tivera demasiado medo para admitir que só tinha um lápis e era demasiado tímida para pedir os outros de volta. As outras pessoas assumiram o pior, porque eu não tinha feito valer os meus direitos.
Nessa mesma noite, o meu pai falou comigo acerca da diferença entre emprestar e dar. Ofereceu-me uma caixa nova de lápis e disse:
— Estes lápis são teus. Não quero que os dês, compreendes?
Agarrei bem a caixa e respondi:
— Sim, papá.
A minha irmã ainda usa esta história para alertar os alunos para não terem medo de fazer perguntas, para não terem medo de verbalizar o que pensam e sentem. Caso contrário, as pessoas podem tirar as conclusões erradas e ocorrer-lhes o que ocorreu com a irmã dela quando tinha a idade deles. E tudo por causa de um lápis de cor preta…
Diane M. Miller
(Tradução e adaptação)

quarta-feira, 25 de março de 2020

História do Dia: O monstro minúsculo que queria ser rei



Num lugar muito longe daqui, havia um monstro minúsculo, tão pequeno, tão pequeno que ninguém conseguia vê-lo à vista desarmada. No entanto, tinha muito mau feitio e uma enorme ambição: tornar-se num gigante e ser rei absoluto. Como tinha nascido com uma coroa na cabeça, achava que tinha direito a dominar todo o planeta.
Um dia, foi consultar uma bruxa malvada muito poderosa e disse-lhe:
- Ouve lá, ó bruxa maléfica, estou decidido a tornar-me num gigante e a ser o rei absoluto deste planeta. Se me ajudares a consegui-lo, recompensar-te-ei e nomear-te-ei minha Primeira Conselheira.
A princípio, a bruxa achou que aquele monstro minúsculo não devia estar bom da cabeça. Ainda por cima, manifestava uma irritante falta de respeito. Chegou mesmo a pensar lançar-lhe um feitiço que o transformaria num sapo ou, como era tão pequeno, num grão de pó. Mas depois reconsiderou, pensando que aquilo até podia ser divertido e respondeu:
- Combinado! Se fizeres tudo o que eu disser, ajudo-te a conseguir o que pretendes.
Virou costas e foi para junto do seu caldeirão, criar um feitiço especial.
Passado algum tempo, a bruxa chamou o monstro minúsculo e disse-lhe:
- Já preparei um feitiço que te permitirá realizar o teu desejo. Mas, para isso, há algumas condições.
- Ai sim? - disse o monstro minúsculo - Que condições são essas?
- Primeiro, tens de prometer que farás tudo o que eu disser, como eu disser e quando eu disser.
- Está bem, prometo! - resmungou o monstro minúsculo, com maus modos.
A bruxa explicou então:
- Para poderes ser o rei do mundo, tens de subjugar os humanos, que são quem, neste momento, domina o planeta. Vais entrar dentro deles e submetê-los à tua vontade. No entanto, tens um tempo limitado para habitar o corpo de cada um, antes que te consigam expulsar.
- De acordo - disse o monstro minúsculo. - E que mais?
- Só podes ir de humano em humano quando eles estiverem em contacto entre si. Aproveita bem cada aperto de mão, cada abraço e cada beijo para passar para o próximo ou então acaba-se o tempo e não poderás realizar o teu desejo.
- Certo. E que mais?
- Quando estiveres dentro de cada um, faz o que puderes para dominar o corpo que invadiste. Obriga-os a tossir para tornar mais fácil e rápida a tua acção. E olha que não vai ser fácil, sobretudo com os mais jovens. Por isso, aproveita especialmente os mais velhos, em particular os que já estiverem doentes.
- Percebi. Não me parece nada difícil. Vai ser canja, hehehehe! Já me estou a ver: enorme, do tamanho do mundo, com o planeta todo às minhas ordens.
- Não te entusiasmes demasiado - disse a bruxa. - Ainda temos muito que fazer. Agora, salta para dentro do meu nariz e vamos ao trabalho!
O monstro minúsculo saltou para dentro do nariz da bruxa e começou a multiplicar-se. Esta disfarçou-se de velhinha simpática e foi até ao mercado, que àquela hora estava a abarrotar de gente. Na mão, levava uma cesta cheia de maçãs, vermelhinhas e sumarentas, para cima das quais havia tossido.
- Olh'ás maçãs vermelhinhas e sumarentas!!! - apregoava ela. - Quem quer comprar as minhas maçãs maduras e deliciosas?
Ao mesmo tempo, ia cirandando entre as bancas do mercado e tossindo para cima das pessoas e das mercadorias e tocando em tudo com as mãos sujas.
Constatando que poucos queriam comprar as maçãs, começou a oferecê-las:
- Olh'ás maçãs vermelhinhas e sumarentas!!! Ó freguês, pague uma e leve três!
A pouco e pouco, o monstro minúsculo começou a entrar pelos narizes e bocas das pessoas que por ali andavam, sem que estas dessem por isso. Quando encontravam algum amigo ou conhecido, as pessoas cumprimentavam-se efusivamente, ajudando assim a passar o monstro minúsculo que as contaminava.
Dias depois, começaram a surgir os primeiros sintomas da invasão: algumas pessoas sentiram-se muito cansadas, com febre e com tosse. As mais vulneráveis tiveram que ser hospitalizadas e, a cada dia que passava, apareciam mais casos. Algumas pessoas não resistiam...
Na sua cabana, a bruxa malvada gargalhava, a cada má notícia que ouvia sobre o assunto. Por seu lado, o monstro minúsculo andava nas suas sete quintas e crescia de dia para dia. Começou por ter sob o seu domínio uma cidade e depois outra e outra.
Quando já controlava o país inteiro, espalhou-se pelos restantes países. Os estrangeiros que estavam de visita levavam-no na bagagem para as suas terras e ajudavam, sem saber, à sua propagação.
O monstro minúsculo começou então a lançar na cabeça das pessoas a semente do medo. Não tardou que o pânico alastrasse e estas começaram a acumular comida e outros bens essenciais. Alguns até compraram armas. Mas esta era uma guerra invisível, porque ninguém sabia como combater o monstro minúsculo.
Os governantes dos países atingidos chamaram os feiticeiros oficiais, mas estes não sabiam como resolver o assunto. Chamaram então os cientistas e pediram-lhes ajuda. Os cientistas estudaram o problema e procuraram uma cura para a doença provocada pelo monstro minúsculo.
Descobriram que este só podia crescer quando as pessoas estavam em contacto entre si. Que se aproveitava de cada aperto de mão, cada abraço e cada beijo para passar de uma para outra. Aconselharam então as pessoas a mudarem os seus hábitos e a ter muito cuidado com a higiene. Aconselharam também que, os que pudessem, ficassem em casa. Só saíam os que tinham mesmo de trabalhar para dar resposta às necessidades do dia a dia.
Muitas pessoas assim o fizeram. Custava muito ficar em casa em vez de ir trabalhar, passear ou tratar dos assuntos habituais. Mas arranjaram maneiras de comunicar e de se apoiarem umas às outras. Vinham para as janelas e para as varandas cantar em conjunto, liam em voz alta, contavam histórias... E diziam umas às outras:
- Vamos ficar bem! Vamos ficar bem!
Assim, o tempo de que o monstro minúsculo dispunha para concretizar o seu plano maléfico ia-se esgotando. A pouco e pouco, voltava a ficar cada vez mais pequeno, o que o deixava tremendamente furioso.
A bruxa malvada acabou também por ser vítima do monstro minúsculo. Ele achava que a culpa do seu falhanço era dela, zangou -se e, como acontece neste tipo de histórias, empurrou-a para dentro do forno e a bruxa rebentou!
O monstro minúsculo ainda anda por aí, mas acredito que as pessoas, que somos todos nós, o iremos vencer. E, no final, vamos ficar bem!
                                                                                             Carlos Alberto Silva

Deite os seus filhos lendo, não vendo televisão

 
                                                                                                                                                         encurtador.com.br/ceqO5

  Não há nada mais terapêutico e reconfortante do que conseguir que uma criança adormeça enquanto lemos um livro para ela, já que a experiência da escuta é fundamental também para o domínio de leitura. Além disso, através da nossa voz, levamos os nossos filhos a um universo de fantasia e de aventuras onde a mente encontra a calma e um convite para continuar sonhando, feliz, enquanto dorme.

    Francesco Tonucci é um notável pedagogo italiano que baseou todos os seus trabalhos no estudo do desenvolvimento cognitivo das crianças pequenas. Para ele, desligar a televisão e ler um livro a uma criança é fundamental! Tal gesto, simples e contínuo, pode estar e está na génese do leitor atento de amanhã. Além disso, esse momento de leitura implica que aproximemos as crianças de valores/atitudes/emoções que as irão tornar mais livres, mais curiosas e, certamente, dignas herdeiras do legado que os bons livros nos deixam. Lembre-se sempre: as crianças transformam-se em grandes leitores ao colo dos pais, por isso, não duvide em ser o melhor exemplo para elas! Deixe que o(a) vejam mergulhar num mar de letras para que elas nadem num mar de sonhos…

    É verdade que, às vezes, estamos tão cansados que é mais fácil juntar a família à frente da televisão… Mas pense que a infância dos seus filhos é muito breve, e que o melhor momento é  “sempre é agora”. Aproveite cada segundo e cada instante, faça deles os seus cúmplices frente a um livro, deixe que o sono os vença no seu colo, enquanto chegam juntos ao final da história…MAIS TARDE ELES IRÃO AGRADECER…E MUITO!!

Um livro aberto é uma mente que fala e um coração que ouve

     Um dos problemas que costumamos ter com as crianças no que se refere à leitura é que são muitas as que se aproximam dos livros por obrigação escolar e não por prazer. Isto não deveria ser assim: um bom leitor é aquele que se aproxima pela primeira vez desses oceanos de letras na sua infância…não por obrigação, mas por pura curiosidade e desafio. Por entusiasmo.

A leitura, tal como o amor, é o alimento ideal para cada um

     Algo tão simples como dar à criança a liberdade na hora de escolher a sua leitura é algo que traz sempre bons resultados, mas é ainda melhor quando somos nós, pais, a funcionar como exemplos. De facto, para Tonucci, não há melhor brinquedo do que um livro e não existe maior legado do que favorecer a capacidade de escuta das crianças. Por isso é tão importante que elas nos ouçam ler…

Os benefícios da leitura relaxada

     Graças a um trabalho conduzido pela “American Academy of Pediatrics”, foi feita uma descoberta importante: as crianças entre os 2 e 6 anos não deveriam estar expostas à televisão ou a dispositivos eletrónicos durante mais de uma hora por dia. Dos 7 aos 12 anos de idade, não devem exceder as 2 horas.
      Segundo este estudo, a visão prolongada da televisão ou do computador pode desenvolver um déficit de atenção nos mais pequenos. E tudo isto porque o córtex frontal, ainda imaturo nas crianças, fica sobreativado com as ondas eletromagnéticas. Assim sendo, deixar que os nossos filhos adormeçam a ver televisão não é precisamente a coisa mais terapêutica… Apesar de nós mesmos fazermos isso com frequência!
       Falamos de educação, pedagogia e antes de mais de saúde infantil. Por isso, antes de deixar que o sono os apanhe diante da TV ou do tablet, é preciso colocar em prática a boa arte da leitura  relaxada. Não importa que os nossos filhos ainda não tenham adquirido a competência da leitura e da escrita ou que estejam apenas no início das primeiras conquistas. Sentarmo-nos com eles na cama e começar a ler para eles irá trazer um benefício enorme para o seu desenvolvimento neuronal e emocional.
      A leitura relaxada aumenta o fluxo de sangue para o cérebro, traz bem-estar à criança, propicía uma calma muito gratificante, bem apropriada aos instantes finais de um dia muitas vezes stressante. Além disso, a área do cérebro que mais é estimulada no processo de “escuta” é a área pré-frontal, indispensável para desenvolver e potencializar muitos processos cognitivos nas crianças: a atenção, a imaginação e os raciocínios mais complexos.
   
      Ler para as crianças uma história ou um pequeno livro com uma mensagem exemplar e conteúdos valorativos pode ainda potencializar a sua empatia, ajudando-a a desenvolver um maior respeito pelos seus semelhantes. Vale mesmo a pena!

A leitura relaxada, um vínculo de carinho entre pais, mães e filhos

     Leia para os seus filhos sem pensar que está a perder o seu tempo ou que tem muitas coisas para fazer além disso. Permita que o tempo se detenha e agarre-os, deixe que a emoção do livro os envolva e que a sua voz cative o coração deles…

     Concluindo, nenhum presente pode superar esses momentos de leitura partilhada nesses lugares inventados onde os sonhos, as aventuras e os mistérios alimentam a imaginação… enquanto a respiração se acalma lentamente, à medida que chega o sono…
       A leitura relaxada, na última hora do dia, é um modo maravilhoso de educar as mentes das nossas crianças pois permite que o seu cérebro amadureça em equilíbrio e harmonia.
    Os livros são, pois, um legado precioso que pais e filhos podem e devem partilhar, e nada, absolutamente nada deveria substituí-los, menos ainda a televisão ou as novas tecnologias.

https://amenteemaravilhosa.com.br/psicologia 
julho 2016
(Adaptação)

terça-feira, 24 de março de 2020

História do Dia: Os quatro irmãos



Era uma vez quatro irmãos, quatro irmãos diferentes como são as horas do dia. Eram três irmãos e uma irmã.
O primeiro era forte e loiro como um rei antigo. Tinha um olhar luminoso e fiel que só de olhar aquecia o coração. Na sua mão direita, estendida, parecia segurar uma estranha varinha – um raio de sol.
O segundo irmão vinha vestido de castanho dourado. Com um fato de folhas douradas pela luz. E na sua mão direita, estendida, trazia um fruto maduro da cor do ouro velho quando lhe dá o Sol.
E o terceiro irmão era velho e triste. Os cabelos brancos tombavam-lhe pela pele de carneiro que lhe cobria o corpo enregelado.
Na sua mão direita, estendida, não trazia nada, nada. E a mão tremia de frio. Ou talvez a mão vazia, estremecendo, escondesse um maravilhoso segredo.
E, por fim, ela, a menina, de cabelos lisos dourados e olhos verdes da cor das ervas tenras dos campos, cantava, segurando na mão direita uma estranha e bela flor.
E os quatro irmãos, vindos pelos caminhos livres da terra, chegaram a uma montanha, a uma alta montanha perto do Sol.
Mas quem são estes quatro irmãos tão diferentes? Ides sabê-lo vós mesmos, Amigos.
Vieram estes quatro irmãos, uns atrás dos outros, devagarinho.
E, no azul do Céu, o Sol pareceu parar, perguntando assim: – Por aqui? Todos ao mesmo tempo? E o Sol pareceu parar, fitando mais a menina:
— Tu, e os teus irmãos?
E redondo e parado, todo estremeceu parecendo zangar-se:
— Por aqui? Por aqui? Todos ao mesmo tempo?
Então a menina falou:
— Hoje, Sol nosso Amigo, saímos de nossa casa, que não tem paredes, nem telhado, nem janelas, e viemos aqui à montanha pelos caminhos livres da terra, falando com quem encontramos.
E acrescentou como se se desculpasse:
— Nós nunca andamos juntos, mas hoje…
O Sol estremeceu ainda:
— Mas o que será feito de vossa Mãe sem que um de vós lhe assista? Três de vós têm de ficar em casa…
O irmão mais velho, o da mão estendida que parecia vazia, respondeu:
— A Nossa Mãe-Terra continua a viver. É por pouco tempo que nós andamos assim… Não vês, Sol? Ora escuta… Vê… Voam e cantam os pássaros, correm os rios, vão e vêm as ondas do
mar… Os homens trabalham, apitam as fábricas, revolvem-se os campos, vão as crianças para as escolas…
O Sol, apesar de tudo, inquietou-se:
— Vejo! Oiço! Mas vocês, vocês os quatro por aqui ao mesmo tempo! Não é costume. Não é bom nem prudente.
Os quatro irmãos olharam-se. Queriam explicar por que estavam todos ali, vindos da casa sem paredes, sem janelas. Aquela casa onde habitavam os quatro irmãos, estando um sempre na rua, correndo os caminhos livres da Terra.
Então, o irmão loiro, que parecia um rei antigo e trazia um raio de Sol na mão, resolveu falar:
— Nossa Mãe mandou-nos os quatro pelos caminhos livres da terra, os quatro ao mesmo tempo, para que disséssemos, aos homens que encontrarmos, que somos amigos. Embora diferentes, somos amigos, sabemos trabalhar para que os homens sejam felizes, tenham pão, flores, alegria…
Foi nossa Mãe quem nos mandou…
Os outros três irmãos sorriram, sorriram os três e continuaram de mão direita estendida, estendida, sorrindo. Até o de cabelos brancos, vestido de pele de carneiro, parecia jovem, sorrindo.
E o Sol, docemente, com um calor todo suave perguntou:
— Vossa Mãe? Como ela me lembra sempre! Ela que pensa em tudo e em todos! Está muito velha a vossa Mãe?
Foi a vez de falar o irmão vestido de folhas doiradas, que trazia um fruto maduro na mão direita, estendida:
— Nossa Mãe tem a idade da vida, da própria vida. Ama-nos a nós os quatro. E ama tudo e todos. Como pode envelhecer quem ama assim?
E o Sol pensou alto, então:
— Como tendes razão! Como pode envelhecer quem ama assim!
E sorrindo, isto é, brilhando mais, falou para os quatro irmãos:
— Continuai o vosso caminho pelos caminhos livres da terra. Mas não esqueçais que tendes de voltar para a vossa casa que não tem parede, nem telhado, nem uma janela. O que será da terra sem que um dos quatro irmãos lhe assista!
E os quatro irmãos apressaram-se a dizer:
— Tendes razão, Sol. Nós vamos.
E disseram adeus ao Sol e começaram a caminhar. E foram em direcção ao mar.
Chegaram junto a uma praia e viram consertando as redes um velho pescador de barbas grisalhas, moreno pelos ventos do mar, pela luz do Sol.
E o pescador, pressentindo-lhes os passos na areia dourada, ficou-se pensativo com a agulha no ar e perguntou por fim:
— Quem sois?
Os quatro irmãos sorriram e outra vez o mais velho respondeu:
— Tu conheces-nos. O ano inteiro nos conheces aqui nesta praia. Três meses por ano um de nós vem visitar-te. Acompanha-nos o Sol e o Vento, o Frio e a Chuva, a Bonança e a Tempestade. Olha bem para nós!
Então o velho pescador franziu os olhos já cansados de olharem tantos anos, e sorriu. E falou devagar:
— Como vos conheço! Sei quando vem cada um de vós, cada irmão por sua vez. Basta-me olhar o brilho das estrelas, o correr das nuvens, o bater do mar. Sei quando chega cada um de vós, deixando os outros irmãos em casa. Mas hoje, hoje vieram todos ao mesmo tempo…
Os quatro irmãos sorriram. E falou a irmã:
— Nossa Mãe mandou-nos os quatro pelos caminhos livres da Terra para que disséssemos aos homens que somos amigos, embora tão diferentes. Nós quatro, tu bem o sabes enquanto olhas o mar, como somos amigos. Como sabemos trabalhar para que os homens sejam felizes, tenham pão, flores, alegria.
E os outros irmãos sorriram e continuaram com a mão direita estendida, sorrindo. Até o de cabelos brancos, vestido de pele de carneiro, parecia jovem, sorrindo feliz.
O pescador fixou este com mais força no olhar cansado, e observou-lhe:
— Tu, às vezes, fazes revolver o Mar, mais do que os teus irmãos agitar a Terra, e nós, pescadores, somos tragados pelas ondas frias.
O irmão mais velho pareceu agora mais velho, mas sereno respondeu:
— É assim a lei da vida que me manda experimentar os homens, a sua coragem. Mas o engenho do homem é imenso, a sua coragem, sem fim.
O pescador sorriu, continuou a consertar a sua rede e pensou alto:
— As praias batidas pelo mar tornam-se mais belas. A agitação das águas é a vida de milhões de peixes que enchem as nossas redes.
E a coragem do homem é sem fim, tendes razão…
E sorria, continuava sorrindo, os olhos, a boca, todo o rosto com suas rugas sorrindo, as próprias mãos pare­cendo sorrir também, trabalhando muito depressa…
E os quatro Irmãos, três irmãos e uma irmã, caminharam de novo pela areia dourada aquecida pelo Sol.
E pararam junto de uma árvore onde se abrigava uma doce mulher embalando um filho pequenino que adormecia nos seus braços.
E a doce mulher cantava:
Quem tem filhinhos pequenos
Tem por força de lhes cantar
Quantas vezes uma mãe canta
Com vontade de chorar…
E a mulher, a doce mulher, suspendeu o seu canto e o seu embalo, e perguntou aos quatro irmãos:
– Quem sois vós?
E os quatro irmãos sorriram. E respondeu o que se vestia de dourado e trazia um fruto cor de ouro velho na sua mão:
— Tu conheces-nos. Sabes quando nós chegamos pelo canto dos pássaros, canto mais contente quando eles fazem o ninho na árvore que te dá sombra.
E continuou:
— Nossa Mãe mandou-nos pelos caminhos livres da Terra para que disséssemos aos homens que somos amigos, embora tão diferentes. Nós quatro, tu bem o sabes enquanto olhas os campos e o céu embalando o teu menino, como somos amigos. Como sabemos trabalhar para que os homens sejam felizes, tenham pão, flores, alegria.
Então a doce mulher sorriu, sorriu e falou:
— Como vos conheço! Sei quando vem cada um de vós pelo canto e pelo voo dos pássaros… Quando eles fazem os ninhos nesta árvore que me dá sombra, quando as flores nascem para me sorrirem por toda a casa, quando posso trincar um fruto como esse que tens na mão, tu irmão das folhas douradas… Mas hoje, hoje, viestes todos ao mesmo tempo… e não vos reconhecia.
E os quatro irmãos sorriram. E a irmã falou. Falou de mão estendida, com uma bela e estranha flor na sua mão:
— Foi nossa Mãe quem nos mandou…
E os quatro irmãos sorriam, os quatro com o braço direito estendido. Até o vestido de pele de carneiro parecia jovem, sorrindo feliz. Então a mulher perguntou:
— E como está a vossa Mãe, na vossa casa que não tem paredes, nem telhado, nem janelas? Muito velha, não?
Respondeu o irmão loiro que trazia um raio de Sol na mão estendida:
— Nossa Mãe tem a idade da vida, da própria vida. Ama-nos a todos. Ama tudo e todos. Cuida de nós todos. De ti, também, e do teu menino que embalas tão docemente. Como pode envelhecer quem ama assim?
A mulher sorriu, entendendo, sorriu, e depois disse como se pensasse alto:
— Vocês vieram os quatro ao mesmo tempo pelos caminhos livres da Terra, da vossa casa sem telhado, sem porta e sem janelas, para que o Mundo seja contente, para que todas as mães cantem sem vontade de chorar…
E ficou-se a sorrir como se dissesse adeus, com uma lágrima sobre o rosto cansado.
Então os quatro irmãos resolveram voltar a casa.
Já a Lua no Céu lhes sorria como uma candeia de prata. Alumiava-lhes de mansinho, rodeada de estrelas, o caminho da casa, a casa sem telhado, sem portas e janelas, onde a Mãe os esperava com os dois braços estendidos, sorrindo, parecendo estar muito longe e muito perto.
E a Mãe, esperando-os, murmurava sorrindo com uma voz cheia de amor:
— Meus filhos!
E abraçou-os um a um, devagarinho, com muito amor, lágrimas de felicidade fugindo-lhe pelo rosto enrugado e feliz.
E os quatro Irmãos entraram sorrindo, com o Sol, a Chuva, o Vento no coração.
E contaram à Mãe, à sua velha Mãe, o que haviam visto, os quatro ao mesmo tempo, nos caminhos livres da Terra…
Deixai-os contar, um deles depressa terá que sair por três meses do Ano – terá de deixar a casa sem porta, sem janelas, sem telhados.
E se eu vos não digo os nomes destes quatro irmãos , três irmãos e uma irmã, é porque vos quero dar a alegria de os descobrirdes sozinhos, assim como quem descobre quatro segredos que têm um nome só, igual ao de sua Mãe.
Matilde Rosa Araújo
Os Quatro Irmãos
Lisboa, Livros Horizonte, 1983
Texto adaptado

Semana da Leitura 2020

segunda-feira, 23 de março de 2020

A Bolacha


Era uma vez uma jovem que estava à espera do seu voo na sala de embarque de um grande aeroporto.
Como tinha de esperar longas horas, resolveu comprar um livro para ocupar o tempo. Comprou também um pacote de bolachas.
Sentou-se numa poltrona, na sala VIP do aeroporto, para poder descansar e ler tranquilamente. Ao seu lado, sentou-se um homem.
Quando a jovem pegou na primeira bolacha, o homem também pegou numa. Ela sentiu-se indignada, mas nada disse. Limitou-se a pensar: “Que descaramento! A minha vontade era dar-lhe uma bofetada para ele aprender!!”
Sempre que tirava uma bolacha, o homem fazia o mesmo. Ela sentia-se de tal modo indignada que nem conseguia reagir. Quando restava uma única bolacha, pensou: “O que é que este descarado vai fazer agora?”
Então, o homem partiu a última bolacha ao meio, deixando-lhe uma das metades.
Ah! Era demais! A ferver de raiva, a jovem pegou no livro e nas suas malas e dirigiu-se ao local de embarque.
Quando, já confortavelmente sentada no avião, olhou para dentro da sua bolsa para retirar uma caneta, verificou, para cúmulo da surpresa, que o pacote de bolachas ainda se encontrava lá… intacto!
Sentiu uma imensa vergonha. Só então percebera que quem tinha procedido mal fora ela, sempre tão distraída! Tinha-se esquecido de que metera as bolachas na carteira.
O homem dividira as bolachas dele sem dar mostras de indignação nem de cólera, enquanto ela tinha ficado enfurecida ao pensar que estava a dividir as suas bolachas com ele. Já não havia tempo para se explicar… nem para pedir desculpa.
Quantas vezes, na nossa vida, não comemos as bolachas dos outros sem termos consciência disso?
Antes de tirar conclusões, reflita.
Talvez as coisas não sejam exatamente como pensa. Não julgue os outros sem os conhecer.
Existem quatro coisas na vida que não se recuperam:
a pedra, depois de atirada;
a palavra, depois de proferida;
a ocasião, depois de perdida;
o tempo, depois de passado.
                                                                                                                                    Nilton J. de Souza
                                                                                                                                            (Adaptação) 

sábado, 21 de março de 2020

Poesia do dia: A Casa da Poesia de José Jorge Letria

E como hoje é Dia da Poesia...


                                                                      Rui castro


A Casa da Poesia
[...]
A poesia tem uma casa
que não é grande nem pequena,
pois tem sempre o tamanho
que tem cada poema.
A poesia vai à escola
com mil versos na mochila
e depois lança-os ao vento
para que possam chegar mais longe
do que chega o pensamento
e, num tempo sem memória,
consigam durar sempre mais
do que dura o esquecimento.
[...]
A poesia gosta de rir
porque o riso a alivia
dos medos e dos fantasmas
que lhe aparecem dia a dia
e também das contas certas
que não rimam com alegria
e adiam a felicidade
como quem mata a magia.
Na casa da poesia
existe sempre à mão
a poeira de magia
a que se chama inspiração
e esse jeito secreto
de juntar trabalho e emoção.
Na casa da poesia
cabem netos e avós,
pais, primos e irmãos
em páginas ímpares e pares,
e cabe sempre a nossa voz,
pois os esforços não são vãos
quando teima a poesia
em não nos deixar sós.
 [...]
José Jorge Letria,
A casa da poesia
Lisboa, Terramar, 2003

https://historiasparaosmaispequeninos.wordpress.com/2019/02/23/a-casa-da-poesia/


sexta-feira, 20 de março de 2020

Poesia do dia: As árvores e os livros


As árvores como os livros têm folhas
e margens lisas ou recortadas,
e capas (isto é copas) e capítulos
de flores e letras de oiro nas lombadas.

E são histórias de reis, histórias de fadas,
as mais fantásticas aventuras,
que se podem ler nas suas páginas
no pecíolo, no limbo, nas nervuras.

As florestas são imensas bibliotecas,
e até há florestas especializadas,
com faias, bétulas e um letreiro
a dizer: «Floresta das zonas temperadas».

É evidente que não podes plantar
no teu quarto, plátanos ou azinheiras.
Para começar a construir uma biblioteca,
basta um vaso de sardinheiras.


Jorge Sousa Braga, Herbário (2002)


Sugestão do dia: Experiências de ciências para crianças



quinta-feira, 19 de março de 2020

História do dia: O Incrível rapaz que comia livros

Sugestão do dia: RTP Ensina




"Ao longo das últimas décadas, a Rádio e Televisão de Portugal (RTP) produziu inúmeros conteúdos cujo interesse não se esgotou na sua divulgação televisiva ou radiofónica. Entrevistas com figuras notáveis das letras, das artes, das ciências, bem como documentários sobre o património e a história[...] um espaço de consulta fácil para os utilizadores, através de computadores, tablets ou smartphones[...]
Que tipo de conteúdos?
Estão disponíveis[...]videos, audios, infografias e fotografias produzidas pelos diferentes canais da Rádio e Televisão de Portugal ao longo das últimas oito décadas. Para além de pequenos excertos de entrevistas ou programas, apresentamos também alguns grandes documentários com grande relevância para determinadas matérias escolares.
Como consultar?
Na área de temas temos os conteúdos divididos pelas principais matérias: Artes, Português, Ciência, Cidadania, etc. Em cada tema podemos filtrar os resultados por tipo de conteúdo, nível de ensino ou sub-tema. Alguns dos artigos publicados estão agregados em dossiers, que nos oferecem o conjunto da oferta existente sobre determinado assunto, ou conjuntos de episódios de uma mesma série. A área de infantil destina-se ao público pré-escolar e contém parte do acervo do espaço infantil zig zag, da RTP2." https://ensina.rtp.pt/sobre/


quarta-feira, 18 de março de 2020

Para pensar...

Uma História por Dia: Um Peixe de Ouro



Era uma vez um pescador que vivia com a mulher numa velha cabana à beira-mar. Todos os dias partia no seu barco, feliz por reencontrar as ondas coroadas de espuma, por sentir o sol acariciar-lhe a face e o vento soprar-lhe docemente nos cabelos. Por vezes, maravilhado com um pôr-do-sol, quedava-se, extasiado pela beleza do mundo, e esquecia-se até de lançar as redes.
Numa manhã em que o mar estava particularmente calmo, lançou as redes à água límpida, dando graças ao céu por tão belo dia. Teve muita dificuldade em puxá-las. Puxou com todas as suas forças, pensando que apanhara vários peixes grandes. Mas, no meio das redes, havia um único peixe de escamas douradas. Ficou muito surpreendido quando o peixe lhe falou com voz humana:
— Peço-te, pequeno pescador, deixa-me voltar para o mar. Dá-me a minha liberdade e dar-te-ei o que quiseres.
O pescador pegou nele delicadamente e pô-lo de novo na água.
De volta a casa, contou a sua aventura à mulher, que ficou muito zangada:
— Ao menos, podias ter-lhe pedido pão! Há muitos dias que não temos pão. Volta lá e pede-lhe pão bem fresco.
O pescador voltou ao lugar onde tinha largado o peixe. Uma brisa suave soprava no mar e as pequenas ondas salpicavam docemente o casco do barco.
— Peixe, peixinho de ouro, vem cá! Vira a cabeça p’ra mim, minha mulher quer assim!
O peixe apareceu e perguntou:
— O que me quer ela?
— Acha que eu deveria ter-te feito um pedido quando estavas preso na minha rede. Queria que nos desses pão.
— Volta para casa — respondeu-lhe o peixe. — Ela já tem o que queria.
Ao chegar a casa, o pescador encontrou a mulher ocupada a empilhar formas de pão e sacos de farinha a um canto da cabana.
— Estás a ver como fiz bem em mandar-te lá? — perguntou ao marido.
Passado um mês, porém, a mulher do pescador começou a queixar-se.
— Devias ter-lhe pedido uma casa. Olha para esta cabana miserável, quase não se aguenta de pé! Na verdade, o que nos faz falta é uma boa casa. Vai ter com o peixe de ouro e pede-lhe uma.
O pescador voltou, contrafeito, ao lugar onde tinha largado o peixe. O sol desaparecera por detrás das nuvens e o vento tinha-se levantado, fazendo oscilar o barco.
— Peixe, peixinho de ouro, vem cá! Vira a cabeça p’ra mim, minha mulher quer assim!
O peixe tirou a cabeça da água e perguntou-lhe:
— E o que quer ela agora?
— Quer uma casa. A nossa cabana está muito velha.
— Volta para casa. Ela já tem o que desejava.
Ao chegar a casa, o pescador encontrou a mulher com um vestido novo, na soleira de uma grande casa de pedra. Atrás de um belo pomar, viu igualmente uma capoeira e um estábulo.
— Vês — disse-lhe a mulher — fiz bem em mandar-te lá.
Mas, duas semanas depois, a mulher do pescador voltou a queixar-se:
— Esta casa é demasiado pequena. Precisamos mas é de um castelo. Vai de novo ter com o teu peixe e diz-lhe que quero morar num castelo.
Tanto o atormentou, que o pescador voltou ao mesmo lugar. O vento soprava agora em fortes rajadas e grandes ondas abanavam o barco por todos os lados.
Contrafeito, o pescador chamou o peixe de ouro:
— Peixe, peixinho de ouro, vem cá! Vira a cabeça p’ra mim, minha mulher quer assim!
O peixe tirou a cabeça da água e perguntou-lhe:
— O que quer ela desta vez?
— Quer um castelo. Acha a casa pequena demais.
— Volta para casa — respondeu o peixe. — Ela já tem o que queria.
Ao chegar a casa, o pescador viu a mulher magnificamente vestida, no pátio de um grande castelo, que estava rodeado por um belo parque. Dezenas de criados atarefavam-se por todo o lado.
— Vês como fiz bem em mandar-te lá?
Mas, no final da semana, a mulher acordou-o uma manhã com um forte abanão:
— Temos de ser os soberanos deste país. Corre e pede ao peixe que nos faça rei e rainha.
— Mas eu não quero ser rei — disse-lhe o pescador.
— Mas eu quero ser rainha. Vai depressa dizer-lhe que quero governar o país.
Triste e com o coração pesado, o pescador voltou à margem. Relâmpagos flamejantes percorriam o céu escuro e ondas ameaçadoras por pouco não viraram o barco.
— Peixe, peixinho de ouro, vem cá! Vira a cabeça p’ra mim, minha mulher quer assim!
O peixe tirou a cabeça da água e perguntou-lhe:
— O que mais quer ela?
— Quer ser rainha. Quer que todos a sirvam.
— Volta para casa — disse-lhe o peixe. — Ela já tem o que exigiu.
Ao chegar a casa, o pescador viu um palácio esplêndido, guardado por inúmeros soldados. A mulher encontrava-se no interior, sentada num trono enorme. Tinha na cabeça uma pesada coroa de ouro, incrustada de diamantes, e trazia um vestido sumptuoso, semeado de finas pérolas.
— Vês como fiz bem em mandar-te lá? — perguntou ao vê-lo.
Mas, nessa noite, na grande cama coberta de peles, a mulher do pescador não conseguia dormir. Perguntava-se o que mais poderia obter do peixe. E quando a alvorada iluminou o céu, pôs-se a gritar de cólera:
— Como é possível? Quando quero dormir é que o sol se levanta, e sem a minha autorização. Vai depressa ter com o peixe e diz-lhe que desejo que os astros me obedeçam.
E ordenou aos guardas que o pescador fosse posto fora de portas. Pesaroso, o pescador voltou ao mar.
Uma tempestade enorme desabara sobre o oceano. As ondas rebentavam em cima do barco do pescador, que não o conseguia controlar. Várias vezes chamou o peixe com todas as suas forças, enquanto a violência do vento lhe abafava a voz:
— Peixe, peixinho de ouro, vem cá! Vira a cabeça p’ra mim, minha mulher quer assim!
O peixe tirou, por fim, a cabeça da água e perguntou:
— Mas o que mais pode ela ainda querer?
— Quer reinar sobre o universo inteiro.
— A tua mulher nunca se sentirá satisfeita. Adeus, caro pescador, nunca mais voltaremos a ver-nos.
Ao chegar a casa, o pescador viu que o palácio tinha desaparecido e que, no seu lugar, se encontrava de novo a cabana decrépita. A mulher choramingava, envergando o seu velho vestido remendado.
— Não chores — disse o pescador. — Não eras mais feliz quando eras rainha. A maior felicidade consiste em estar-se contente com o que se tem.
E partiu, feliz, para pescar o alimento de todos os dias no mar límpido e tranquilo.

Johanna M. Coles; Lydia M. Ross, L’Alphabet de la Sagesse, Paris, Albin Michel Jeunesse, 1999

segunda-feira, 16 de março de 2020

Uma História por Dia: Ser verdadeiramente rico



"Este foi o meu primeiro aniversário longe de casa. Senti falta da minha mãe, da minha irmã, e seguramente do bolo especial que a minha mãe sempre fez para o meu aniversário.
Desde de que entrei para a universidade este ano, observo com ciúme os caloiros que recebem encomendas dos pais nos seus aniversários – aliás, até nos dias normais. Em vez de me sentir empolgada com o facto de fazer 18 anos, sinto-me vazia. Gostava que a minha mãe me enviasse algo também, mas sei que não tem dinheiro para o presente ou sequer para os portes de envio. Fez sempre o melhor que pôde pela minha irmã e por mim. Criou-nos sozinha. A verdade é que nunca houve dinheiro suficiente. Mas isso não a impediu de nos ajudar a sonhar.
“Podes ser aquilo que quiseres ser”, dizia ela. “Política, bailarina, escritora, tens apenas de trabalhar para isso, tens de apostar na tua educação.”
Durante muito tempo, por causa do engenho da minha mãe, não compreendi que éramos pobres. Ela conseguia fazer tanto com tão pouco! Tratava da nossa casa com verdadeiro empenho e zelava pelos canos com mais de 40 anos e pelo aquecedor a óleo para que nos mantivéssemos quentes durante os invernos gélidos. Vestia-nos e alimentava-nos. Conseguiu que tivéssemos bolsas para estudarmos violino e piano com os melhores professores de Filadélfia. Nunca deixava passar nenhuma oportunidade para falar com os nossos professores e assistia a todas as nossas apresentações musicais e teatrais.
A minha mãe tinha muita esperança na minha irmã e em mim. Compreendeu que o modo de sairmos da pobreza era a educação. Não brincávamos sempre na rua como as outras crianças, nem ficávamos no alpendre até tarde, a conversar e a rir com os vizinhos. Ficávamos em casa a fazer os trabalhos escolares e a ler livros. A mãe sentava-se connosco, enquanto cumpríamos as nossas tarefas, e ensinava-nos a estudar, incitando-nos a consultar enciclopédias ou a recorrer às bibliotecas. E fazia tudo isso com um salário manifestamente insuficiente.
Nunca comprou nada que pudesse ela própria fazer e apenas em casos de emergência recorria às suas poupanças, que guardava num banco do centro da cidade.
Graças aos grandes sonhos e sacrifícios da minha mãe, consegui chegar à Ivy League, na Universidade de Brown, em Rhode Island. Mesmo assim, tive medo de não estar à altura  dos meus colegas. Pareciam-me confiantes e aparentavam ser ricos. Senti-me perdida e deslocada por vezes.
Enquanto sonhava acordada, bateram à porta. A minha colega de quarto abriu e um homem dos correios perguntou por mim. Entregou-lhe uma caixa retangular e grande, que ela colocou cuidadosamente sobre a secretária ao pé da minha cama. Abri-a e lá dentro estava um bolo de baunilha com cobertura de chocolate. Escrita com maçapão estava a mensagem: Feliz Aniversário, Sande! Com amor, mãe e Rosalind. Foi como se a minha mãe estivesse mesmo ali, a abraçar-me. Como tinha conseguido pagar o envio?
Saí do quarto e bati à porta dos meus colegas. “Bolo de aniversário”, gritei eu. Ao cortar o bolo para os dez colegas que reunira no quarto, e ao observar os seus rostos enquanto comiam, percebi que eu não precisava de comer para me sentir satisfeita e rica por dentro."

Sande Smith://contadoresdestorias.wordpress.com/2017/02/05/ser-verdadeiramente-rico/

sexta-feira, 6 de março de 2020

Semana da Leitura 2020

Durante a próxima semana (9 a 13 de março) comemora-se a Semana da Leitura. Para celebrar a leitura, o livro e o leitor, o Plano Nacional de Leitura (http://www.pnl2027.gov.pt/np4/sl2020apresentacao.htmlconvida as escolas a promoverem atividades para festejar a leitura como ato comunicativo, diálogo entre as artes, as humanidades e as ciências, espaço de encontro, criativo e colaborativo, de modo a promover a leitura e a escrita como objeto de prazer e liberdade.



segunda-feira, 2 de março de 2020

Concurso Mascote das Bibliotecas

Já temos uma mascote para as Bibliotecas do Agrupamento de Valadares! A Lili, idealizada pela aluna Adriana Vasconcelos, da turma 3CAD (Escola Básica de Cadavão), passará a integrar a nossa equipa e fará parte da nossa imagem.
A mascote foi construída com base em três conceitos básicos: Sabedoria, materializada no mocho; Aprendizagem, simbolizada no livro; Conhecimento e Globalização, representados pelo balão em formato de planeta Terra.
Com esta representação pretende-se comunicar os fundamentos essenciais da biblioteca e o gosto pela leitura. 
Parabéns à vencedora e a todos os participantes!