Cansado de correr pela cidade, Marco desceu a escadaria em direção ao metropolitano, misturou-se por entre a multidão e esperou.
Naquele submundo sujo, suado e barulhento, tinha a oportunidade de passar despercebido. Ninguém reparava nele. Na cidade, todos estão demasiado ocupados, vivendo no seu pequeno mundo-bolha, longe do que os rodeia. E falavam alto, grosseiramente, sobre o barulho das carruagens, dos anúncios de chegada e partida, daqueles que, sentados num qualquer canto, pobremente vestidos, lhe pediam dinheiro.
E Marco pensava em tudo isto, com tristeza, embora a sua invisibilidade lhe desse jeito, até que um gigante vermelho e metálico parou diante de si e suspirou, abrindo as portas, convidando-o a entrar.
E mesmo a tempo, porque nesse preciso momento, o agente Nuno e uns quantos amigos seus aceleravam pela escadaria. Mas as portas fecharam-se diante de si; havia agora uma barreira entre Marco e os seus problemas.
O metro tossiu e iniciou a viagem. Para onde? Marco não sabia dizer. Só precisava de ir para longe, muito longe…
Apertou o casaco. Ninguém podia ver as manchas de sangue na sua camisola. Sangue que não era seu…
Sentou-se, levou as mãos à cabeça. Não sabia bem o que se passara, apenas que a culpa não era sua. Mas o seu tom de pele e passado acusavam-no injustamente.
Agora apenas havia que fugir.
Mafalda Moreira, 9.º C