quinta-feira, 10 de março de 2022

Para refletir: Uma margarida diferente

Era uma vez um jardim enorme e maravilhoso! Ele era cheio de margaridas. Margaridas brancas, todas elas margaridas brancas. E eram tantas que, por mais que você olhasse o jardim, não dava para enxergar onde terminava.

As margaridas ali viviam em constante festa. Eram muito felizes e se achavam as flores mais lindas do mundo! Na verdade, elas nem sabiam da existência de outras espécies e cores, acreditavam que eram as únicas e, por isso, as mais belas.

Até que um dia, algo inesperado aconteceu. Não sei como, nem porque, simplesmente aconteceu sem ninguém explicar. É que ali, bem no meio de todas essas margaridas brancas, outra margarida nasceu.

E o que tem de tão inesperado nisso? Nascer uma margarida é a coisa mais normal do mundo, acontece todo o dia. Mas a margarida que nasceu não era como as outras. Era uma margarida amarela.

E mal brotou na terra, já se viu cercada de flores assustadas, com olhos arregalados que pareciam querer fuzilar a pobrezinha.

No início achou que esta era a forma que elas recebiam as flores que chegavam, e meio desajeitada com a situação, sem saber o que dizer, apenas sorriu.

O silêncio foi geral. As margaridas brancas nunca tinham visto essa novidade. Margarida amarela… na certa, alguma coisa estava errada.

Foi aí que começaram as explicações:

— Calma, gente, vai ver que ela nasceu com aquela doença, a febre amarela. Daqui a uns dias ela melhora, volta à cor normal! Por isso, acho melhor ninguém se aproximar, pode ser uma doença grave.

As margaridas na mesma hora se afastaram, não queriam ser contaminadas.

A pequena margarida amarela não entendia nada. Por que as outras da sua espécie não queriam conversar com ela nem se aproximavam?

— Já sei — disse outra. — Quem sabe, quando ela estava para nascer, algum bicho fez cocô em cima dela, por isso ela está assim, meio amarelada. Eca!

— Ela pode ter queimado no sol, torrado e ficado desse jeito, meio desbotada — falou mais outra.

Cada margarida branca tentava arrumar uma explicação para a cor amarela da margarida.

Mas o tempo foi passando e a margarida amarela continuava amarela e cada vez mais sozinha. Chorava toda noite, baixinho, com coração apertado; sofria, por não ter com quem conversar, com quem brincar. Ela só não sabia o que fazer para ser como as outras.

Até que uma noite, teve uma ideia. Perguntou a um passarinho que voava por ali, se existia alguma maneira de ela ficar como as outras, branquinha, branquinha.

— Que tal se eu pintasse você? — perguntou o passarinho.

A margarida amarela achou ótima a ideia. Afinal, era o único jeito de ser aceita e querida pelas outras margaridas.

Naquela noite mesmo, enquanto as margaridas brancas dormiam, o passarinho levou um balde de tinta branca e pintou a margarida amarela todinha de branco. Ela achava a cor amarela muito mais bonita, mais alegre, mas sabia que, se quisesse ficar naquele jardim, ter amigas, precisava ser branca, igual às outras.

Quando as margaridas acordaram, levaram o maior susto! A margarida amarela tinha se transformado em branca!

— Tá vendo, eu bem que disse que com o tempo ela iria clarear, era só uma doença passageira! — disse uma margarida branca.

— Que nada, ela deve ter tomado um banho enquanto dormíamos e tirou todo aquele cocô de cima dela — disse outra margarida.

A margarida amarela, agora branca, sorriu. Aliviada, por ser como as outras, agora se sentia parte do grupo.

Foi a partir desse dia que as outras margaridas começaram a olhar para ela, dirigir-lhe a palavra e até chamá-la para brincar. A pequena margarida se esforçava para falar, para se divertir, mas, por mais que tentasse, não conseguia ficar à vontade, feliz de verdade! Era como se tivesse que fingir ser algo que não estava dentro dela. Como é difícil ser igual às outras, quando você nasceu para ser diferente…

Mas em pouco tempo a margarida, agora branca, conquistou todo o jardim, tinha sempre um sorriso a oferecer. Brincar? Era com ela mesma; cuidadosa, criativa e carinhosa, conseguiu fazer muitas amizades por ali.

No entanto, você já deve ter ouvido falar que mentira tem perna curta e, por isso, não dura para sempre. Aconteceu que um dia uma tempestade forte caiu no jardim. Era água que não acabava mais. O vento soprava com força, as margaridas se seguravam uma nas outras para não serem levadas. E o vento ventava e levava para o alto pedaços de folhas, galhos, flores caídas no chão… e levou também a cor branca da margarida amarela.

No dia seguinte, quando tudo voltou ao normal, ao ver a margarida amarela de novo, as outras margaridas ficaram assustadas, tentaram se afastar, não conversaram com ela. Mas a margarida amarela já havia conquistado o coração de todas as flores, e então as margaridas brancas perceberam que a cor amarela não era um problema, quando comparada ao enorme coração que ela possuía.

A margarida amarela ficou tão feliz, por ser aceita como era, que seus olhos derramaram lágrimas de tanta felicidade, e ela tentava despistar.

E foi então que aconteceu um milagre. As lágrimas de felicidade, caídas na terra fofinha, fizeram brotar um monte de outras margaridas, todas amarelas.

Hoje o jardim continua enorme e maravilhoso. Mas agora, as margaridas são brancas e também amarelas.

Quem passa por aqui percebe rápido o quanto o jardim se mostra mais alegre, vivo, lindo. Afinal, a diferença torna o mundo mais bonito!


123-contos-de-uma-vez-35-m

Rúbia Mesquita

1,2,3 Contos de uma vez

Belo Horizonte, MG; Umi Duni Editora, 2009


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