segunda-feira, 2 de maio de 2022

Apontamentos da História: Carta da 1.ª Guerra Mundial

Minha querida mãe, a cada dia, esta guerra fica pior e mais soldados morrem. A minha sorte é que o meu turno é só de noite, senão, não estaria aqui a te escrever agora. 

Eu e os meus companheiros vivemos em péssimas condições: vivemos em buracos, em baixo do solo, chamados de trincheiras. Nos tais buracos, não conseguimos escapar da chuva, do sol, do calor e do frio. também somos expostos a diversas doenças, transmitidas especialmente por cadáveres que guardamos dentro das trincheiras, empilhamo-los bem em cima de nossa única fonte de água, que usamos para nos lavar e para beber. Esses cadáveres atraem animais como ratos e piolhos.

  Alguns dos meus colegas já tiveram de ter pernas e, ou pés amputados, pois quando chove, as trincheiras ficam bastante alagadas e, como ficam assim por vários dias os nossos pés e  as pernas começam a apodrecer, e como resultado têm de ser retirados a sangue frio. Eu, por sorte, não tive de amputar nada, por enquanto…

  Além das doenças transmitidas por cadáveres, a vida nas trincheiras é horrível; antes de vir para cá, preparamos uma mochila de 20Kg com diversas coisas, como biscoitos, café, açúcar, utensílios de cozinha, telefone, água, armas e entre muitas outras coisas, também levamos nosso equipamento, que infelizmente, não é de boa qualidade. As nossas máscaras contra os gases tóxicos estão cheias de furos; acabam por não proteger nada assim como as nossas botas. Além de tudo, muitos dos meus companheiros acabam por enlouquecer e como esperado fazem coisas loucas. Alguns chegam a se suicidar porque, não aguentavam mais ficar naquele estado, já outros, para ir embora, fingem que se magoaram, ou então cortam-se de propósito, alguns conseguiram escapar e ir para casa, mas outros não tiveram a mesma sorte e, foram descobertos e mortos.

  Quando vamos à batalha, não vamos diretamente ao território inimigo, senão, morreríamos, eu e todos, baleados! Para preparar o ataque, cavamos buracos que vão desde as nossas trincheiras até às trincheiras inimigas, passando assim pela terra de ninguém, até chegar ao território dos alemães. Às vezes, esse trabalho é feito diretamente e, infelizmente, vários soldados morrem; inclusive, por essa causa, perdi um grande amigo meu, o Ricardo, morreu baleado por um alemão, que, depois, eu mesma o matei. Ouvi o meu amigo, estendido nos meus braços a dizer as suas últimas palavras. Eram lágrimas e caos por todo lado, mas, pelo menos está com Deus agora. 

  Minha querida mãe, sei que ao ler esta carta, os seus olhos encher-se-ão de lágrimas, mas mãe, por favor, não chore, pois não estou a lutar só porque sou obrigada, estou a lutar por ti, pelo pai e pela família, pelos meus amigos, por aqueles que já não estão mais cá e, além de tudo, por Portugal inteiro. Então, se eu morrer, não morrerei em vão, morrerei por todos!


                                                                                                       Abraços e beijos a todos, 

                                                                                                                          Clara


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