A maçã
Na relva cheia de pó,
cai uma maçã pequena
que ao ver-se tão suja e só
começa a chorar de pena.
O galo do catavento,
temendo alguma desgraça,
para logo o movimento
e pergunta : – O que se passa?
– Quero ver o mundo! – diz
a maçã a soluçar.
– O escaravelho é feliz,
pois tem patas para andar!
De um alto ramo pendente
via o sol, o céu, a estrada
com gatos e cães e gente
Mas, no chão, não vejo nada!
– Eu tenho uma rica ideia!
— diz o galo (e bate as asas),
– Dou-te esta noite boleia
para veres gentes e casas.
E assim fez. Voa da igreja,
põe às costas a maçã
que vê tudo o que deseja
até romper a manhã.
[...]
O galo regressa à sua
torre da igreja aldeã
para, aí, contar à Lua
a viagem da maçã.
E a maçã muito contente,
diz, na relva, pra consigo:
– Vi o mundo, finalmente!
E o galo é meu amigo!
António Manuel Couto
Viana
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