Deserto adentro viajam os magos… montados nos seus
camelos através da escuridão da noite.
— Vejam, estamos a ser guiados por aquela estrela! —
exclamou o primeiro.
— Guiados ao encontro de um rei — concordou o
segundo.
— O Rei do Céu e da Terra — acrescentou o terceiro.
Havia um outro homem que viajava com eles.
— Quem me dera ser tão sábio como os meus
companheiros — disse para si próprio. — Ter-me-ia inteirado melhor sobre a
razão da nossa viagem antes de termos partido.
— A minha prenda está escondida no alforge — murmurou
o primeiro.
— A minha vem atada ao cinto — respondeu o segundo.
— E eu trago a minha cosida entre as pregas da túnica
— acrescentou o terceiro.
O quarto homem olhou para eles com tristeza.
— Ainda não encontrei uma prenda digna daquele rei —
lamentou-se. — Continuo à procura.
— A minha prenda é ouro, porque o rei é poderoso —
declarou o primeiro.
— A minha é incenso, porque as orações do rei
chegarão a Deus que está no Céu — anunciou o segundo.
— E a minha é mirra, porque o rei será muito famoso
em vida mas sê-lo-á ainda mais após a morte — declarou o terceiro.
O quarto homem baixou os olhos.
— Eu nem sequer sei que prenda lhe hei-de dar —
suspirou.
Os quatro homens continuaram o caminho pela noite
fora, prosseguindo uma viagem que iria prolongar-se por muitos dias e muitas
noites.
Por fim, a estrela que os conduzia ficou imóvel no
céu nocturno, pairando sobre uma humilde habitação.
— Que lugar tão estranho para um rei — admirou-se o
primeiro homem.
— A estrela mostra claramente que estamos no sítio
certo — respondeu o segundo.
— Vamos então entrar e oferecer as nossas prendas —
disse o terceiro.
O quarto homem ficou à espera do lado de fora.
— Posso ir buscar água para os camelos — disse para
si próprio — já que não encontrei uma prenda digna do rei que está lá dentro.
Deslocou-se até ao poço e encheu um cântaro com água.
Como era muito pesado, pousou-o no chão por um instante.
Foi então que descobriu uma coisa maravilhosa, e
inclinou-se sobre o cântaro para a ver melhor.
— A estrela — disse ele. — A estrela que está no céu,
está também no meu cântaro velho e gasto.
Ficou a olhar para ela maravilhado, durante um
momento, e a seguir soltou uma sonora gargalhada.
— É isto que vou levar ao rei — disse — a luz do Céu
reflectida na água do meu cântaro.
Milagrosamente, a estrela continuou a brilhar no
cântaro, fazendo sorrir o Rei-Menino.
Lois Rock (org.)
Contos e Lendas da tradição cristã
Lisboa, Editorial Verbo, 2006
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