No meio da floresta, vivia um pinheirinho
muito envergonhado. Queixava-se ele de que tinha umas folhas insignificantes,
tão magras e aguçadas, que as outras árvores, por troça, diziam:
– Tu não tens
folhas. Tens agulhas, em vez de folhas.
Isso custava-lhe
muito. Magoava-o. Entristecia-o.
A fada Flora, para
alegrar o pinheirinho, vestiu-o, uma vez, de oiro e de prata.
Estava lindo.
Sentiu-se outro. Perdeu as mágoas.
Mas um ladrão, que
se tinha escondido na floresta, ao ver tal fortuna em ouro e prata, roubou-lhe
as folhas todas.
Ficou o
pinheirinho num grande desespero. O tronco e os ramos tiritavam, despidos de
folhas.
Então, a fada
Flora voltou a condoer-se do pinheiro triste e nu. Fez uma nova mágica e o
pinheirinho, no dia seguinte, acordou coberto de agulhas de vidro tilintante.
Assim, sim! Nada
podia acontecer-lhe de mal, porque o vidro não atrai cobiça.
Só não contava com
o vento, que veio a correr, para admirar de perto tal maravilha. Desastrado
como ele é sempre, abanou a pequenina árvore tanto que as folhas de vidro
bateram umas nas outras. Caíram no chão e partiram-se.
Lamentou-se o
pinheirinho:
– Afinal, mais me
valiam as minhas antigas folhas verdes e agudas.
A fada Flora,
cheia de paciência, tornou a dar-lhe o fato antigo de árvore verdadeira. Talvez
ela já tivesse calculado que assim voltaria a acontecer. Talvez ela tivesse
feito tudo de propósito...
Fosse como fosse,
o pinheirinho estava, finalmente, feliz.
De longe em longe,
muito de longe em longe, não disfarça um curto suspiro de saudade:
– Que bem que eu
ficava, vestido de ouro e prata. E que bonito, todo coberto de vidro.
Mas é um
pensamento de raspão e passa-lhe depressa.
No entanto, a
lenda conta que alguém, adivinhando os pensamentos do pinheirinho, resolveu
enfeitá-lo com lindas bolas de vidro de todas as cores e fios de prata e de
ouro a fingir.
Assim nasceu o
pinheiro de Natal.