Embora fosse um camponês
trabalhador, a colheita foi muito pobre naquele ano devido à ausência das
chuvas, a ponto de mal ter para alimentar a mulher e os filhos. Em situação
desesperada, não teve outro remédio senão recorrer a um abastado nobre para lhe
suplicar:
— Senhor, fie-me alguns grãos
para não morrermos à fome.
— Está bem — respondeu o
poderoso. — Vou dar-te bem mais do que aquilo que me pedes: vou emprestar-te
várias moedas de ouro, mas terás de esperar uns meses até que faça a coleta dos
impostos, está bem?
— Quero contar-lhe uma coisa,
senhor — disse o camponês. — Quando vinha para lhe suplicar ajuda, ouvi uma voz
angustiada que pedia socorro. Ao acudir ao chamamento, vi que se tratava de uma
carpa que se encontrava numa terrível situação. Estava caída no meio do
poeirento caminho, sob um sol abrasador e dizia:
— Sou do rio e estou a morrer
neste pó. Por favor, não tens um balde de água onde eu possa mergulhar?
Respondi-lhe:
— Está bem, está bem. Vou fazer
mais do que isso: vou trazer-te uma bacia muito grande, mas terás de esperar
até que vá para Sul e traga água do rio que lá existe, está bem?
Então a carpa, à beira da morte,
disse-me:
— Fazes promessas, mas não me
facultas a única coisa que pode salvar-me a vida: um balde de água. Quando
trouxeres a bacia, já terei morrido.
Muitas vezes não só não somos
generosos como pretendemos justificar a nossa ausência de generosidade
servindo-nos de pretextos ou de falsas justificações. A avareza torna-nos
insensíveis, endurece-nos o coração e faz-nos viver de costas voltadas para as
necessidades alheias, esquecendo-nos de ser solidários.
O antídoto para a avareza é a
generosidade, uma das qualidades mais belas do ser humano, que é preciso
aprender a cultivar. É também fruto da compaixão e de uma perceção correta das
coisas. A compaixão consiste em compreendermos o sofrimento alheio, mas,
também, em usarmos os meios que temos ao nosso alcance para o prevenir ou minorar.
Ramiro Calle
Os melhores contos
espirituais do Oriente
Esfera dos Livros,
Lisboa, 2010
Sem comentários:
Enviar um comentário
Por favor, comenta com ponderação. Obrigada!