Ia um grande movimento no roseiral ao lado da casinha do
jardim. Abelhas, abelhões, vespas e moscardos zumbiam e zuniam em volta dos
cálices das florinhas. Mas hoje, os pequenos hóspedes dos arbustos não andavam
tão ávidos à procura de comida. Estavam a conversar sobre os homens, de quem só
raramente tinham alguma coisa boa para contar, porque os bichos de duas pernas
andavam sempre atrás deles, procuravam matá-los com sprays, os enxotavam das
flores, fatias de bolo e cestos de merendas, ou os perseguiam com caça-moscas.
— Até parece que têm medo de nós! — admirava-se um abelhão —
E eu que nunca fiz mal a uma pessoa!
—Eu também não!
—E eu muito menos!
—E vocês acham que nós fizemos?
E continuaram a falar alto. Os animais estavam de acordo
numa coisa: nunca nenhum deles fizera mal a um ser vivo. Porque é que os
homens, que dizem saber sempre tudo, não sabiam aquilo?
— Mas ontem — observou uma vespa — passou-se uma coisa
estranha comigo. Estava a comer numa silva, quando se aproximou uma criança com
uma tigela. Já estava para fugir, quando reparei: a criança não me enxotou!
Não. Perguntou antes delicadamente se também podia colher amoras. Claro que eu
não tinha nada contra! A criança encheu a tigela e despediu-se com um alegre
“Adeus!”. Digo-vos que fiquei muito admirada!
—Se calhar enganámo-nos acerca dos homens —disse a vespa,
pensativa.
—Ou foram os homens que mudaram? — respondeu o besouro.
—Seria justo! —disse o moscardo. —O mundo é de todos!
—Hurra! —gritaram as abelhas, de contentes. — Os homens
perceberam!
De repente, ouviram vozes humanas.
— Ui! — gritou uma voz horrorizada. — A nossa roseira está
cheia de bichos! Temos de fazer qualquer coisa!
Imediatamente se aproximaram do arbusto mãos com paus e
sprays de veneno.
—Ide embora, bichos —gritavam as vozes.
Os insetos puseram-se a andar.
— O dia de ontem deve ter sido um sonho, não acham? — disse
mais tarde o moscardo com tristeza.
— Ontem também me aconteceu uma coisa idêntica — disse a
abelha. — Foi no prado dos trevos. Eu e umas colegas voávamos de um lado para o
outro à procura de néctar, quando apareceu um parzinho de namorados. Estávamos
para nos ir embora, mas os jovens perguntaram delicadamente se podiam sentar-se
algum tempo à nossa beira. “O prado é de todos”, respondemos, e eles
sentaram-se na erva ao nosso lado e nós pudemos prosseguir com o nosso trabalho
sem sermos incomodadas. Para dizer a verdade, foi divertido andar a zumbir em
volta deles e mais tarde ainda nos agradeceram pelo belo concerto. O que dizem
vocês a isto?
— Alguém que entenda os humanos! — resmungou um moscardo. —
A nós, quase nos estripavam por medo. Mas ontem, um homem levou-me num jornal
para fora de casa, onde eu andava baralhado. E ainda me disse “Passa bem!”.
Esquisito, não?
—É esquisito!
E cada animalzinho tinha uma história semelhante para contar
sobre o dia anterior.
Elke Bräunling
Da wird dia Angst ganz klein
Limburg, Lahn Verlag, 1998
(Tradução e adaptação)
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