Muito grato ao minúsculo roedor, que mais uma vez provara
que os grandes nunca devem desprezar a ajuda dos mais pequenos, o rei leão deu
uma festa em honra do seu salvador.
Por altura dos discursos, o leão, diante da bicharada
reunida, elogiou o ratinho e a força dos seus dentes. Sua Majestade estava
comovida.
– Para provar a minha gratidão, dou-te o direito de escolher
o que tu quiseres, em paga dos teus serviços.
Cabia ao rato a vez de responder. Pôs-se em bicos de pés e
disse:
– Quero casar com a tua filha, para vir a ser, mais tarde,
ao lado dela, o rei dos animais.
Com isto é que o leão não contava, mas não podia voltar com
a palavra atrás.
A princesa leoa ficou furiosa. Ela casar com um rato?
Que ridículo!
Já a orquestra dos elefantes começava a soprar, no fim do
banquete, dando início ao baile real.
– Os noivos, os noivos! Eles que dancem! – gritavam de
vários lados.
Muito compenetrado do seu papel, o ratinho foi buscar a
princesa. A vénia com que ele a convidou era de uma elegância sem igual.
O pior foi durante a bailação, propriamente dita. O rato
podia valsar maravilhosamente, mas o par ajudava pouco...
Primeiro levou uma pisadela que quase o esborrachava.
Depois apanhou com uma patada que o atirou para o colo de um
dos elefantes da orquestra.
Muito contundido, o rato teve de desistir da dança e da
noiva.
Ela não se importou mesmo nada e ele, embora humilhado,
suspirou de alívio, quando se viu longe daquela festa em que, pela primeira vez
na vida, se sentira a mais.
António Torrado
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