Era uma vez uma ratinha chamada
Tita que estava sempre a fazer perguntas.
Felizmente, tinha uma Avozinha
que estava sempre a dar respostas e por isso entendiam-se lindamente.
– Avozinha – perguntou Tita um
dia – o que é o amor?
– O amor? – riu-se a Avozinha. –
Oh, isso é fácil, Tita! Vem dar um passeio comigo e vais perceber logo o que é!
A Avozinha e a Tita foram pela
horta fora onde o Avô estava a tratar da terra.
– Chiu! – murmurou o Avô, e
apontou em direcção a uma mãe-
-carriça que estava a ensinar os filhotes a voar.
-carriça que estava a ensinar os filhotes a voar.
– Tal como tu e
a Avozinha me ensinam a fazer coisas! – sussurrou Tita.
Depois do portão da horta,
começava o bosque. Pouco depois de lá chegar, a Tita viu uma mãe-esquilo a
partilhar com os seus filhotes algumas das bolotas que tinha escondido num
buraco durante o Outono.
– Tal como a Avozinha partilha os
seus cozinhados comigo! – exclamou Tita.
Depois de terem passado pelo
bosque, chegaram ao prado. A Tita gostava de lá ir, porque podia ver os coelhos
fora das tocas, todos atarefados, de um lado para o outro. Mas, hoje, havia um
coelhinho que tinha magoado a patinha numa pedra afiada e a mãe-coelho estava
deitada à beira dele, a fazer-lhe companhia até ele melhorar.
– Tal como te sentas à cabeceira
da minha cama, se eu estiver doente – disse Tita.
Havia um campo perto do prado e
Tita viu um cordeirinho que andava a correr de um lado para o outro, cheio de
medo de um cão-pastor. Mas, nesse momento, uma mãe-ovelha saiu do rebanho muito
apressada e aproximou-se do cordeirinho, que, quando se pôs encostadinho a ela,
ficou muito mais sossegado.
– Vês – sorriu a Avozinha –
aquela mãe ovelha estava a dizer ao cordeirinho para não ter medo do
cão-pastor. Ele está lá para tomar conta deles.
– Tal como tu me dizes para não
ter medo, quando estou assustada – disse Tita.
Depois de atravessarem o campo, a
Avozinha e a Tita chegaram ao lago dos patos, onde uma ninhada de
patinhos fazia “quá, quá” e “ploc, ploc”, numa correria atrás da mãe.
– Aqueles patinhos, um dia, vão
crescer, não vão? – perguntou Tita. – Achas que a mamã deles os vai esquecer,
quando tiver de tomar conta de outros filhotes?
– Não! – disse a Avozinha. – Ela
nunca esquecerá nenhum deles.
– Tal como tu nunca me
esquecerás! – disse Tita.
Agora, já estava a ficar escuro
e, quando Tita e a Avozinha deram meia-volta para regressar a casa, passaram
por um celeiro. Ouviram alguém a piar lá dentro e a Tita foi à porta, dar uma
espreitadela. Então, ela viu a mãe coruja a dar muitos beijinhos repenicados
aos seus pequenotes, antes de sair, durante a noite.
– Tal como tu me dás um beijinho
de boa noite – disse baixinho Tita.
– Sim – concordou a Avozinha. –
Embora para as corujas seja um beijo de bom-dia!
E as duas desataram a rir.
Como estava noite, Tita e a
Avozinha apressaram-se a chegar a casa e viram o Avô a acenar ao pé do portão.
– Avozinha! – disse Tita. – As
coisas todas que vi hoje, se as pusermos todas juntas, ficamos com amor?
– Sabes que mais – disse a
Avozinha – acho que tens toda a razão.
Naquela noite, Tita esteve à
janela com a Avozinha, a pensar em tudo o que tinha visto.
– Foi um dia muito agradável –
disse Tita baixinho. – Gosto muito de ti, Avozinha, e do Avô também.
– E eu gosto muito de ti, Tita –
disse a Avozinha.
E assim, Tita deu um beijo de
boa-noite à Avozinha e foi pé ante pé para a caminha.
Dugald Steer
Tita, gosto de ti
Porto, Ambar, 2004
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