Eu tive de
ir ao sótão procurar uns jornais antigos.
Como toda a
gente sabe, o sótão é o lugar da casa que menos é limpo. Nunca se convida as
visitas para ir ao sótão. Nunca se utiliza o sótão, cheio de baús, malas e
caixotes, para dar festas de aniversário. Até talvez não fosse má ideia…
Eu a entrar
no sótão, e a esbarrar com uma teia de aranha.
— Que falta
de consideração — barafustou a aranha. — Uma teia que me deu tanto trabalho a
fabricar!
— Foi sem
querer. Desculpe — disse-lhe eu, um tanto encavacado.
— Quem
estraga, arranja — gritou-me ela.
— Mas eu não
sei tecer teias de aranha…
— Então, não
tivesse rasgado. Quem estraga, arranja — insistiu ela.
Não tenho
feito outra coisa. Pedi instruções a um tecelão, a uma bordadeira e a uma
senhora que trabalha em malhas. Cada uma ensinou-me o que sabia e eu, mal ou
bem, com uma agulha muito fininha e um fio de nylon ainda mais fino tenho
passado os dias no sótão a cosipar a teia da dona aranha.
Com tantas
responsabilidades na minha vida, tantas histórias para contar, e sucede-me a
mim uma destas.
Ainda se a
aranha se calasse, mas não se cala:
— Quem
estraga, arranja.
E sempre a
desfazer do meu trabalho:
— Que falta
de jeito. Que horror.
Mais dia,
menos dia, também eu me enervo e mando a aranha contar histórias, em vez de
mim. Sempre queria ver como é que dava conta do recado.
António Torrado
https://contadoresdestorias.wordpress.com/2008/10/02/a-teia-de-aranha/
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